Fórum Ambiente e Sustentabilidade

A políticas ambientais e de sustentabilidade das empressas têm cada vez mais relevância. Há quem defenda que estas medidas têm sido menos simplificadas do que seria realmente desejável.

1. As políticas ESG deviam ter uma abordagem mais simplificada para as empresas?

Em primeiro lugar temos de compreender porquê que estamos com tanta regulação a nível de ESG: o objetivo é fazer com que a temperatura do planeta não suba mais do que 1,5ºC em 2050, e para isso é necessário atingir a neutralidade carbónica em 2050. Em segundo lugar temos de compreender o custo que vai ocorrer se nada for feito, e segundo um estudo da Swiss re, se nada mudarmos e a temperatura aumentar mais do que 2,6ºC (que é a trajetória atual), o PIB mundial pode baixar 18% e na Europa 10%. Em terceiro lugar, os cenários desenvolvidos pelos bancos centrais de vários países no âmbito da Network for Greening the Financial System, concluem que o cenário que tem menores custos é aquele em que a regulação ocorre mais cedo e que existe uma mudança atempada na forma de se gerir os impactes, de forma originar menos riscos físicos, o chamado cenário Ordeiro. Por fim, relembrar um dos resultados da análise dos testes de stress climático realizados este ano na Europa e publicado pelo BCE afirma que a projeção de Loan Losses nas próximas 3 décadas é menor no cenário Ordeiro; aumenta no cenário desordenado onde a regulação demora mais tempo a acontecer e é dramático se nada fizermos. Com base na ciência e nestes estudos realizados por entidades fidedignas e da área financeira, eu diria que o ESG não pode ter uma abordagem mais simplificada para as empresas, pois isso trará um custo muito mais elevado para elas e para a economia dentro de 10 anos.

Sofia Santos, Sustainability Champion in Chief na Systemic e professora no ISEG.

As políticas que têm sido adotadas, por um lado, têm sido menos simplificadas do que seria realmente desejável. Mas, por outro lado, penso que devia haver uma política energética de longo prazo e uma política virada para a sustentabilidade da economia portuguesa a longo prazo e isso não acontece e é um grande problema. Não é uma perspectiva de curto prazo é de realmente haver uma abordagem mais especificada ou menos especificada para as empresas. É que não existe de facto, neste momento, um planeamento estratégico a longo prazo no sector da energia, como noutros sectores. Não existe também hoje em dia de facto um conjunto de instrumentos que permitam implementar uma política de longo prazo. Porque não temos um banco de investimento que funcione de forma adequada porque não temos a entidade que faça a ligação às empresas em termos de clusters. Portanto, também não temos adotado políticas com uma adequação adequada entre um instrumento de planeamento do país, porque não temos sequer uma direção central de planeamento e as entidades que lidam com a comissão europeia para obtenção dos fundos comunitários. Isto aplica-se quer em termos de plano de reestruturação e resiliência, quer em termos do chamado Portugal 20-30. Portanto, o problema mais grave no nosso país não é propriamente isto, das políticas ESG para empresas. O facto que não haver uma linguagem mais simplificada para as empresas perceberem o que está em causa, embora isso também seja importante. Não existe, de facto, um planeamento estratégico do sector energético da economia que terá de contemplar também essa realidade, que é o relacionamento com as empresas.

António Rebelo de Sousa, Presidente da SOFID

Na questão dos problemas das políticas climáticas e de sustentabilidade creio que não estamos muito mal. Basta [verificar] a definição das variáveis e das métricas para essas variáveis. É difícil quantificar para saber se estamos a cumprir objetivos, porque é preciso avaliálos e depois perceber se estamos ou não a cumpri-los. Nessa medida, eu diria que sim, acho que nós podemos ter aqui um problema que não é tanto de simplificação de linguagem, mas é de concretização das variáveis que possam ser usadas para o cumprimento de certos objetivos. Isso é que pode ser difícil. Por exemplo, a deteção de emissão de partículas poluentes é fácil detectar, põem-se um contador, que é uma coisa física, e pronto. Agora, ao nível da sustentabilidade do negócio isso é muito mais difícil. Particularmente no que toca a criar métricas que sejam depois universais. É muito difícil, e é por isso que digo que a simplificação pode ser uma via, mas não há garantias que essa simplificação consiga alguma coisa no fim. O que é super importante é consideramos alcançar um objetivo. Agora, será que a simplificação vai influenciar positivamente o nível de atingimento dos objetivo? Tenho dúvidas.

João Duque, Especialista em Economia

A sustentabilidade é simples, na medida em que tudo o que as empresas fazem pode ser considerado sustentabilidade. Estamos a falar de três pilares essenciais, o ambiental, o social e o económico, que mais recentemente foi substituído pelo governance – a tão falada sigla ESG (Environmental, Social, Governance). Todas as empresas têm como objetivo ter lucro, logo as questões económicas são o seu motivo de existência. Mas será possível ser economicamente sustentável e ter um produto de qualidade, se estivermos a poluir o ambiente, a causar danos nos colaboradores e a não ser éticos. Kofi Annan, quando foi Presidente das Nações Unidas, proferiu uma frase interessante sobre o desenvolvimento sustentável: “Não estamos a pedir às empresas para fazerem coisas diferentes, estamos apenas a dizer que as façam de forma diferente”. E na realidade é tão simples quanto isto. As empresas têm que deixar de gerir a sustentabilidade como uma área à parte e integrá-la nas suas estratégias de negócio. Não pode haver duas estratégias. Trabalha-se muito para os rankings e para o marketing, mas na realidade também existe muito greenwashing. A sustentabilidade já faz parte dos valores defendidos pelas novas gerações. Há que ter um propósito e as empresas ou acompanham ou ficarão sem recursos num futuro breve. Os CEO têm de ter uma visão integrada de forma a conseguirem criar valor de forma responsável. Quando isto acontecer, deixaremos de falar em sustentabilidade e todos os fatores ESG estarão no coração e no ADN das empresas. É simples.

Maria João Vaz, Sustainability Director da Mazars em Portugal 

Entendemos que os compromissos que as nações e as organizações têm para com o Ambiente (E) e a Sociedade (S), assim como a necessidade de adotarem políticas de Governo (G) alinhadas com as melhores práticas, não são um assunto de agora e a experiência adquirida vem ajudar na resposta aos requisitos de ESG presentes e futuros. A União Europeia assumiu um papel de liderança nesta matéria e na urgência de demonstrarmos as medidas implementadas que nos permitirão acelerar e cumprir com o Acordo de Paris (reforçado em 2022 em Glasgow na COP 26). Notamos, ainda assim, que a UE tem tido a preocupação de assegurar uma implementação progressiva, mais complexa e urgente para as empresas de maior dimensão ou com maior pegada carbónica, e, posteriormente, de uma forma mais simplificada para empresas de menor dimensão ou de menor impacto ambiental e social. De todo o modo, os modelos de reporting caminham a passos largos para uma estandardização, que permitirá, igualmente, um tratamento dos dados e escrutínio mais fácil dos níveis de compromisso. O Grupo Marsh McLennan tem, entre as suas empresas e áreas de atuação, desenvolvido serviços que permitem ajudar as organizações a simplificar e a acelerar o seu processo de transição e mitigação. Nesta matéria, damos particular destaque ao Marsh ESG Risk Rating, que permite dar às empresas, de uma maneira simples, o “estado da arte”, ajudando-as a priorizar a sua estratégia nos aspetos mais frágeis em cada momento. Finalmente, notamos que, tal como as empresas de serviços e consultoria estão a desenvolver capacidades e soluções para ajudar os seus clientes, também estes estão a criar os seus departamentos e comités de sustentabilidade, contratando e requalificando as suas pessoas para, mais do que assegurar uma resposta aos requisitos de ESG, transformar essa aposta numa enorme oportunidade.

Fernando Chaves, Risk Specialist da Marsh McLenan Portugal 

Mais do que uma tendência, as políticas de ESG constituem um tema incontornável e decisivo para o presente e futuro das empresas, de todos os setores, sem exceção, com implicações concretas na sua operação, no relacionamento com os seus públicos, sejam clientes, fornecedores ou até com entidades financiadoras. Na realidade, as políticas ESG são uma oportunidade para os negócios ao contribuírem para melhorar a produtividade, o nível de satisfação dos colaboradores, a capacidade de identificação e gestão de riscos externos, diminuir o risco regulatório e impulsionar a inovação. Cada vez mais o desafio das alterações climáticas exige uma ação concertada e um esforço coletivo de modo a ser possível atingir os compromissos ambientais assumidos pelo país, mas, mais importante que isso, para ser possível garantir um futuro às próximas gerações. A APED está a fazer a sua parte neste campo, estando a promover o Roteiro para a Descarbonização do Setor da Distribuição, uma iniciativa que posiciona o setor na linha da frente na resposta aos desafios climáticos. Existe ainda um caminho a percorrer, pelo que importa verificar as melhores práticas a nível internacional, planear iniciativas bem sustentadas, assentes em compromissos quantitativos e qualitativos, com objetivos e métricas claras e, acima de tudo, reforçar a comunicação e sensibilização às empresas. Isso passa também por criar momentos de literacia em sustentabilidade para as empresas, demonstrando, sobretudo às PME, que apostar em políticas de ESG não constitui mais uma atividade burocrática sem espaço face à necessidade de foco na operação diária da empresa, mas sim uma componente que tem de estar no centro das decisões, que tem impacto nas diferentes dimensões da atividade da empresa: pessoas, procedimentos, captação de clientes, relação com fornecedores e captação de financiamento para novos investimentos. Mas é importante também a clarificar as políticas e critérios no que toca à regulação das finanças sustentáveis. É preciso encontrar um equilíbrio entre o rigor necessário para uma correta implementação e medição de ações.

Gonçalo Lobo Xavier, Diretor-Geral Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) 

Mais do que simplificar as políticas ambientais, o grande desafio para as empresas é colocar as práticas sustentáveis no centro da sua estratégia de crescimento e desenvolvimento. É compreender e assumir que adotar práticas ambientalmente mais sustentáveis é positivo para o negócio. Cria valor, reduz dependência, traz vantagens económicas e financeiras. No panorama empresarial português, há quatro elementos críticos que vão alavancar uma mudança de paradigma: os consumidores, o talento, o capital e as grandes empresas. Os consumidores, especialmente nas Gerações Y e Z, têm na sustentabilidade uma preocupação crescente e olham para as empresas e para as marcas com espírito crítico, esperando delas uma abordagem responsável, humana, transparente. Os colaboradores e o talento procuram organizações que partilhem os seus valores, que tenham um propósito claro e ponham em prática uma estratégia ambiental e socialmente sustentável. O capital está, de forma crescente, mais facilitado e disponível para empresas sustentáveis. Quer se trate de dívida ou investimento, o capital será mais barato e mais abundante para aquelas empresas que produzem de forma responsável, tendo em conta a neutralidade carbónica, a transição energética, a economia circular, a biodiversidade e o respeito pelos direitos humanos. As grandes empresas, que fazem parte da cadeia de valor de muitas PME e micro empresas, têm mecanismos de controlo, avaliação e auditoria cada vez mais exigentes para os seus fornecedores, pois muitas estão já a reportar informação não financeira nos seus relatórios de gestão.A sustentabilidade é hoje um conceito indissociável da competitividade nas empresas. mercado. As questões de ESG estão ganhar palco – e irão crescer cada vez mais – pelas exigências do próprio mercado.

Vânia Soares, Business Development Manager da Moneris

in Jornal Económico - Especial Fórum Ambiente e Sustentabilidade

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