É preciso estar alerta para um contexto global em mudança
Numa perspetiva de futuro e para a definição de estratégias eficazes e mais resilientes, as empresas devem, portanto, compreender as tendências, a sua extensão e implicações.
É essencial compreender-se o contexto global, identificarem-se os riscos e oportunidades subjacentes e incorporar esta análise na reflexão estratégica e na definição dos temas materialmente relevantes, traduzindo-se depois em compromissos, com objetivos concretos e métricas específicas, no âmbito dos planos de ação / roadmaps.
A tomada em consideração das tendências globais é, portanto, fundamental para as empresas navegarem e operarem, com sucesso e de forma sustentável, pela incerteza futura.
Atualmente reconhece-se um conjunto diversificado de tendências globais com base na nossa experiência e em relatórios recentemente publicados, de entidades bastante reconhecidas nestas matérias, como o World Economic Forum, o WBCSD (World Business Council for Sustainable Development) ou a SustainAbility.
As tendências variam desde a demografia, a economia, a política, a tecnologia e o ambiente. Considero estas cinco tendências globais como as que atuam como "forças motrizes", que por sua vez dão origem/estão relacionadas com muitas outras tendências, nomeadamente as específicas da sustentabilidade e do setor de atividade em que as empresas atuam.
As 5 tendências globais:
- Planeta no limite – Alterações climáticas, perda de biodiversidade, desflorestação, escassez de recursos e degradação ambiental, zoonoses (epidemias e pandemias).
- Alterações demográficas – Crescimento populacional global e envelhecimento, diferenças intergeracionais e “passagem de testemunho” entre gerações, migrações.
- Perturbações da coesão social, polarização da política interna – Aumento das desigualdades e insatisfação, populismo e nacionalismo, regimes autoritários.
- Instabilidade geopolítica, abrandamento económico e mudanças de poder – Principalmente para a Ásia, mas também para África e América Latina. Aumento das tensões globais e afastamento do multilateralismo.
- Inovações tecnológicas para o melhor e para o pior – Digitalização, automatização, IA, realidade virtual, blockchain, dataficação, entre outros. Aumento da vigilância, dependência cibernética e risco de ciberataques.
A incerteza futura aumentou.
A COVID-19 expôs várias vulnerabilidades dos nossos modelos económicos e sociais atuais e pode ter impacto em muitas das tendências globais e na forma como se irão desenrolar ao longo da próxima década, quer exacerbando as tensões e acelerando as tendências já existentes, quer alterando as interligações entre as tendências
As tendências e perturbações globais estão interligadas e são interdependentes, tendo impacto e alimentando-se mutuamente, representando vários riscos mas também oportunidades.
Dado que todos os nossos sistemas económicos, sociais, políticos e de saúde têm um elevado nível de interdependência com o ambiente (que está à beira de ultrapassar múltiplos limites), não é surpreendente descobrir que os principais riscos globais em termos de probabilidade e impacto, de acordo com o relatório de risco do WEF, sejam ambientais. Estes incluem riscos relacionados com o clima (eventos climáticos extremos, falhas na mitigação e adaptação às alterações climáticas), perda de biodiversidade, danos ambientais causados pelo Homem e crise dos recursos naturais.
O retorno do “novo normal” após a pandemia do COVID-19 foi rapidamente interrompido pela guerra na Ucrânia, desencadeando uma série de crises de energia, alimentos, segurança e inflação o que levou a problemas que décadas de progresso procurraram resolver.
Com o início de 2023, o mundo enfrenta uma série de riscos que parecem totalmente novos e estranhamente familiares. Temos assistido a um retorno de riscos “antigos” – inflação, crise no custo de vida, guerras comerciais, saída de capital de mercados emergentes, agitação social generalizada, confronto geopolítico e o espectro da guerra nuclear.
Estes riscos estão a ser amplificados por desenvolvimentos relativamente novos no cenário de riscos globais, incluindo: insustentáveis níveis de endividamento, uma nova era de baixo crescimento, baixo investimento e “desglobalização”, um declínio no desenvolvimento após décadas de progresso, rápido e irrestrito desenvolvimento de tecnologias de dupla utilização (civil e militar), a pressão crescente dos impactos das alterações climáticas e as ambições para sua mitigação. Juntos, estes riscos moldam uma única, incerta e turbulenta próxima década.
No que diz respeito à agenda global da sustentabilidade, a década de 2020 será decisiva, já declarada como a "década de ação", com menos de dez anos para:
- Reduzir para metade as emissões globais de gases com efeito de estufa (GEE) e manter o aquecimento global a 1,5°C (por via do Acordo de Paris);
- Atingir a Agenda 2030 das Nações Unidas e os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
De referir ainda o Pacto Ecológico Europeu e a recém-aprovada “bazuca europeia” – pacote de recuperação europeu para fazer face às consequências económicas e sociais da pandemia (novo “Plano Marshall”) – com incidência na resiliência, transição climática e transição digital, o que levará a investimentos avultados nas transformações económicas, sociais, ambientais e nas inovações tecnológicas.
Estes processos serão cruciais para tornar as nossas economias e sociedades mais resilientes, sustentáveis e inclusivas.