Tecnologia é cada vez mais uma "aliada" e "transversal" a toda a prática

Inteligência artificial, soluções em cloud e data mining são, cada vez mais, uma realidade diária na vida dos auditores e ROC, com ganhos de eficiência associados.

A importância das tecnologias da informação na área de auditoria e revisão de contas tem vindo a crescer a olhos vistos, com a automação de processos, o data mining, inteligência artificial e soluções em cloud a massificarem-se nos últimos anos. A pandemia deu um empurrão a este processo, mas a tendência de digitalização vinha já de trás e a generalidade das sociedades de revisão oficial de contas (SROC) fazem, hoje em dia, uso extensivo destas ferramentas para aumentar a qualidade do seu trabalho, ao mesmo tempo que os profissionais da área têm mais tempo disponível para outras tarefas.

A própria Ordem dos Revisores Oficiais de Contas (OROC) fazia, na primeira edição da sua revista “Revisores e Auditores” do ano passado, um levantamento dos artigos científicos relativos à utilização de tecnologias da informação na área de auditoria e revisão de contas nos últimos 20 anos. A primeira tendência clara é o crescimento das referências a estas técnicas e instrumentos na década de 2011 a 2020, altura em que a sua utilização cresceu consideravelmente.

Por outro lado, verifica-se que a maioria destas referências são relativas a processos de controlo interno ou modelos de negócios, com 17,9%, seguida de sistemas de informação contabilística, com 6,6%, e de XBRL (o padrão do reporte contabilístico), com 4,3%. A lista contém ainda referências a plataformas em cloud, blockchain, inteligência artificial e dashboards, mostrando a ampla panóplia de recursos tecnológicos de que se socorre esta área.

Em declarações ao Jornal Económico (JE), vários especialistas do sector falam num processo ao qual é impossível escapar, dados os ganhos conferidos pela tecnologia no dia-a-dia.

“Não vemos a tecnologia como uma moda ou uma obrigação, bem pelo contrário – procuramos utilizá-la como um aliado, como uma solução que permite a criação de condições para a realização de um trabalho de qualidade e com a rentabilidade esperada”, começa por afirmar Vítor Santos, senior partner da DFK.

“A importância da tecnologia para a Mazars é bastante transversal e já nem é hoje discutível a sua relevância, não só pela necessidade de acompanhamento da evolução do mercado nesta matéria, mas também considerando o impacto que este assunto tem no negócio dos nossos clientes e, por sua vez, a exigência refletida em relação aos serviços prestados por nós”, continua Ivo Morais, senior manager de Audit & Assurance Industry & Services da Mazars.

Ganhos em soluções verticais e horizontais

No caso da auditora e consultora em Portugal, Ivo Morais dá alguns exemplos de ferramentas que, “pela necessidade diária ou impacto mais regular no que é o dia-a-dia das equipas”, merecem destaque.

“O Data Sniper veio introduzir maior eficiência e rigor no processo de execução de testes de detalhe, permitindo igualmente incrementar a qualidade do processo de revisão do trabalho executado - uma vez que há a ligação com a informação de origem; o analisador SAFT permite ter uma solução ao nível de base de dados muito completa e uniforme, que leva a uma otimização na execução de testes de revisão analítica e de management override, impactando de forma significativa a capacidade de tratamento dos resultados obtidos; e por fim o Atlas, um software de auditoria que temos no Grupo Mazars que permite a entrega de auditorias integradas com interação total entre todas as equipas envolvidas, independentemente da sua geografia”, detalha.

Este género de soluções como o Atlas ganhou uma importância acrescida no contexto de pandemia, dada a necessidade de limitar contactos e, como tal, de transferir operações complexas de um escritório centralizado para as casas dos colaboradores. Vítor Santos refere, nesta perspetiva, que a “adoção da Cloud como infraestrutura das nossas aplicações tem permitido o abandono de servidores próprios com ganhos de eficiência nomeadamente nas questões de segurança relacionadas com a partilha de ficheiros”.

O senior partner da DFK precisa que nesta sociedade foi feita “uma centralização dos trabalhos de auditoria numa ferramenta específica”, o que permite “integrar ficheiros recebidos dos clientes reduzindo os processos de input manuais, uniformização de processos e papeis de trabalho com referenciação para arquivo digital e integrar processos relacionados com o controlo de qualidade dos trabalhos nomeadamente na aceitação do cliente, execução do trabalho e continuidade do mesmo”.

Semelhante opção teve a JM Ribeiro da Cunha & Associados, SROC, que adotou logo, aquando da sua criação, uma CAAT (Computer-Assisted Audit Techniques), criando depois “uma rede interna moderna, com acessos nivelados, que permitem a todos os colaboradores um acesso rápido à informação que necessitam”, conta Vasco Oliveira, sócio da firma.

“Esta vantagem foi decisiva entre 2020 e 2021, aquando do confinamento e do teletrabalho, possibilitando um trabalho à distância quase como se as equipas estivessem juntas no cliente ou no escritório”, continua.
Outro aspeto no qual as tecnologias da informação têm dado um importante impulso à área é no reporte aos reguladores, tanto a OROC, como a Comissão do Mercado e Valores Mobiliários (CMVM), e especialmente considerando as crescentes obrigações das sociedades neste âmbito.

João Cruzeiro, ROC e sócio-gerente da Oliveira, Reis & Associados, defende mesmo que o “cumprimento das exigências legais e normativas não nos parece possível sem um bom suporte informático”, bem como “tratamento de ficheiros de grande dimensão, como é o caso dos SAF-T”.

Inteligência artificial vai marcar próximos anos

Olhando para o futuro, as possibilidades são quase infindáveis, dado o rápido desenvolvimento de soluções inovadoras e a revolução tecnológica em curso.

Vasco Oliveira destaca “ferramentas informáticas como as redes neurais artificiais, o machine learning e o deep learning, [...] que permitem identificar distorções relacionadas com desvios aos padrões esperados”, além do process mining, que pode vir a substituir “mecanismos de auditoria tradicionais aplicados ao conhecimento das entidades e dos seus processos, nomeadamente indagações, observações e análise documental”, dado que estes envolvem “um alargado conjunto de recursos, com os respetivos gastos associados”.

Outra das “ferramentas de inteligência artificial com grande margem de progressão nos próximos anos” para o sócio da JM Ribeiro Cunha & Associados “são os Robotic Process Automation, programas de análise documental sistematizada que permitem um enorme ganho de eficiência em tarefas mecânicas e repetitivas”.

“A evolução tecnológica continuará a reforçar os nossos ganhos ao nível da entrega e permitirá colocar o foco das pessoas onde estas podem acrescentar maior valor”, remata o senior manager da Mazars Portugal, Ivo Morais. ■

“A importância da tecnologia para a Mazars é transversal e já nem é hoje discutível a sua relevância, [...] considerando o impacto que tem no negócio dos nossos clientes”, diz Ivo Morais

“A adoção da cloud como infraestrutura das nossas aplicações tem permitido o abandono de servidores próprios com ganhos de eficiência”, refere Vítor Santos, da DFK

In Jornal Económico

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