Sustentabilidade: para 40% das grandes empresas europeias o tempo está a esgotar-se
Diretiva europeia entra em vigor já em 2024.
Mais de 40% das grandes empresas europeias revelam atrasos na implementação de relatórios de sustentabilidade. Esta é uma das principais conclusões do barómetro C-suite, realizado pela consultora Mazars, junto de 832 empresas, de 27 países, no final de 2022.
A menos de um ano da entrada em vigor da Diretiva de Reporte de Sustentabilidade Corporativa, que reforça os deveres de informação das empresas europeias em matérias de ESG, promovendo a transparência e comparabilidade dos dados, 41% das empresas inquiridas dizem não estar “completamente preparadas para o reporte”.
A incapacidade de recolher e rastrear dados é um dos principais desafios apontados pelas organizações, com os inquiridos a identificar a qualidade dos dados (37%) e a capacidade de monitorizar a sua evolução (28%) como principais obstáculos. Desafios que já haviam sido identificados no último barómetro da consultora, em 2021, o que sugere um progresso limitado.
“É surpreendente ver o número de empresas que produzem relatórios de sustentabilidade aumentar apenas marginalmente face ao ano passado. Um quarto das empresas que pesquisamos no último ano planeavam começar a reportar nos próximos 12 meses. Mas isso não se traduziu nos resultados deste ano, onde esperávamos ver um aumento superior a 2%. Muitas vezes, a falta de capacidade interna é o maior desafio”, afirma Chris Fuggle, Head of Sustainability da consultora francesa. O especialista destaca a questão da propriedade , ou seja, quem é realmente responsável por supervisionar os relatórios de sustentabilidade? Embora quase um terço das empresas já tenha um Diretor de Sustentabilidade dedicado, o facto de o relatório ESG ficar a cargo do CEO em 25% das restantes empresas sugere alguma falta de maturidade. “É importante que os CEO conduzam a agenda de sustentabilidade e garantam que tópicos ESG relevantes sejam identificados e incorporados na estratégia e operações de negócios, mas pode não ser muito eficaz ter o CEO responsável pelos relatórios ESG”, adianta. “A mensagem principal deste inquérito é que o ESG ainda está a lutar para encontrar um lar. Existe algum progresso, mas não tanto quanto deveria”.
Entre as empresas europeias, implementar ou rever a estratégia de sustentabilidade é mesmo a principal prioridade estratégica para os próximos três a cinco anos, à frente da adaptação às novas tecnologias, que lidera no resto do mundo.
Tecnologia e talento
Globalmente, 32% das empresas identificam a adaptação às novas tecnologias como a principal prioridade estratégica para os próximos anos , seguida pelas exigências de sustentabilidade e a necessidade de reestruturar e cortar custos , com destaque para a automação. Mais de 30% dos executivos consideram que a emergência de novas tecnologias será a principal tendência com impacto nas suas atividades no próximo ano, e 93% diz estar confiante nas suas capacidades para adaptar sistemas na organização.
Outro tema que tem marcado a agenda do setor é a necessidade de atrair e reter talento. Mais de um terço dos executivos reconhece que a dificuldade em atrair uma força de trabalho qualificada pode atrasar o crescimento dos seus negócios, e 28% dizem mesmo ser este o principal fator de bloqueio ao crescimento , só ultrapassado pela incerteza económica, pelos custos da energia e pela instabilidade geopolítica. Para conquistar esse talento, os líderes acreditam que a empresa deve promover o trabalho em equipa e uma cultura de camaradagem, a qualidade dos membros da equipa deve ser de alto nível e destacam a necessidade de oferecer oportunidades de progressão na carreira.
Já a equidade de género permanece no topo das prioridades dos gestores, embora com progressos limitados. Mais de 50% das empresas reportam ter programas operacionais de igualdade de oportunidades e de equidade de género, mas apenas 44% das empresas têm mais de 30% de mulheres em cargos de decisão , um valor que permanece virtualmente inalterado há três anos. “Existem mulheres na pool de talentos, mas não em posições-chave de tomada de decisão. Quando o problema não está na origem, é preciso olhar para o processo: o elevador corporativo está partido , ou melhor, nunca funcionou para as mulheres”, afirma Cécile Kossoff, Global Leader for Diversity and Inclusion da Mazars. A responsável destaca que o único progresso significativo na última década ocorreu em países e regiões onde foram introduzidas cotas para conselhos não executivos. “A Europa é um grande exemplo de sucesso nesta área, e os governos devem continuar a implementar mecanismos para ajudar as mulheres a participar em todo o seu potencial”.
Apesar dos muitos desafios, a maioria dos executivos está otimista quanto ao crescimento futuro, com 86% a afirmarem terem uma perspetiva positiva de crescimento em 2023.
Artigo de Marta Marques Silva, In Visão