Novos modelos de trabalho - Como se vai desenhando outra realidade

Responsáveis de empresas de grande notoriedade perspetivam o futuro do trabalho, que em muitos aspetos poderá ter muito a ver com aquilo que se faz no presente, sobretudo com os desenvolvimentos da pandemia. Os constrangimentos com que pessoas e empresas tiveram de lidar a partir de março de 2020 juntaram-se ao enorme potencial das novas tecnologias para o desenho de outra realidade.

Uma enorme mudança

Para Luís Gaspar, Managing Partner da Mazars, há «uma evidente correlação entre a gestão do talento e os desafios colocados pelo presente ambiente, que acelerou o surgimento de novas exigências». Ao mesmo tempo, «torna-se mais determinante e urgente capacitar os profissionais para o desenvolvimento das suas competências e a aplicação prática das mesmas, de forma necessariamente diferente do que tem vindo a ser realizado até aqui». O responsável assinala que «estes são desafios cruciais, não apenas para assegurar a competitividade, mas também a perenidade das organizações».

Por outro lado, refere ainda, «o perfil e as ambições da geração mais jovem no mercado de trabalho têm vindo a evidenciar uma postura diferente, a que se assiste na sociedade em geral, mas com particular destaque em ambiente profissional», sendo que «o interesse por um número mais alargado de experiências provocou uma significativa redução na duração das relações profissionais». Esta é «uma enorme mudança, com um impacto na segurança e na produtividade de tarefas que são diretamente afetadas pela rotatividade e pela substituição de equipas».

O responsável da Mazars perspetiva que «o futuro trará previsivelmente um regime misto no trabalho, promovendo um equilíbrio entre a necessidade de contacto e a formação das equipas, os processos nas instalações dos clientes e o trabalho recorrente que seja possível realizar à distância». E «esta dimensão da transformação digital do trabalho, potenciadora de formatos mais flexíveis e retirando muitas das tarefas de menor valor acrescentado aos processos, permitirá que um conjunto de profissões se possam tornar mais atrativas para gerações que pretendem um ‘work-life balance’ diferente do das gerações anteriores».

No que diz respeito à tecnologia, o responsável entende que esta «permitirá reinventar a experiência para clientes e equipas e, ao capacitá-los com novas soluções, potenciar o trabalho dos auditores e consultores». Nota mesmo que existe «a promessa de uma abordagem mais ampla à inovação, combinando apetência tecnológica, competências humanas e conhecimentos técnicos». E acrescenta: «Quando confrontados com os avanços ao nível da inovação tecnológica e da automação, podemos questionar que processos e tarefas poderão vir a ser passíveis de alteração e transformação no contexto do mercado. Uma boa base de partida para este exercício de reflexão é que, exceção feita ao julgamento profissional por parte dos auditores e consultores, os restantes elementos do processo serão passíveis de mudança.»

Quanto ao «desenvolvimento profissional, e até certo ponto pessoal, será cada vez menos alicerçado nos formatos tradicionais de formação, mas sim na disponibilização de uma oferta alargada de conteúdos relacionados com competências técnicas, mas também pessoais e interpessoais, com acompanhamento cada vez mais próximo das necessidades e ambições individuais», assinala Luís Gaspar, que ainda deixa um alerta: «É muito importante ter em consideração que não é possível manter talento no longo prazo com iniciativas de curto prazo. As equipas mais talentosas são também as mais exigentes em termos de ‘feedback’, de informação sobre os objetivos futuros e, principalmente, na forma como podem aplicar a sua energia e a sua capacidade de inovação. De nada serve termos as melhores pessoas connosco se depois falhamos em dar-lhes as melhores ferramentas e condições e inviabilizarmos a utilização do seu entusiasmo e do seu talento numa estratégia a longo prazo, mesmo equacionando novas perspetivas e oportunidades não planeadas inicialmente. É necessário que a liderança organizacional seja também ela adaptável e tenha a ambição de potenciar este capital na sua visão para o futuro.»

A Mazars é uma empresa internacional de auditoria, fiscalidade e consultoria. Com mais de 75 anos, tem em Portugal escritórios em Lisboa, Porto e Leiria e cerca de duas centenas de profissionais.

In Human (Número 135, janeiro-fevereiro de 2022)