Neste contexto de desafios acrescidos e mudança, o que esperam as empresas da auditoria? A suposição de que querem apenas uma auditoria financeira tradicional parece já não corresponder à realidade, como revelam 96% de entrevistados num estudo realizado pela Mazars. Estes valorizam, sobretudo, o facto de os seus auditores poderem vir a ampliar a sua oferta de serviços para além da auditoria financeira e responder a novas prioridades e necessidades de negócio.
O estudo ‘O futuro da auditoria: visão de mercado – mitos, realidades e caminhos a seguir’, realizado junto de mais de 500 utilizadores de auditoria e decisores em 12 países, questionou as empresas sobre as suas expetativas em relação à auditoria e construiu uma imagem detalhada das questões que mais preocupam o mercado. Parecem existir conceções difusas sobre a missão dos auditores, que sublinham a necessidade de uma discussão focada e transparente sobre o âmbito da auditoria. Importa explorar e identificar o que precisa de mudar para que a auditoria evolua e ocupe verdadeiramente o papel para o qual foi desenhada.
Os resultados desta análise permitem obter uma melhor compreensão acerca da relação das empresas com os serviços de auditoria presentemente disponibilizados, apresentar uma visão objetiva das necessidades do mercado e definir recomendações para a evolução do setor e os benefícios que esta evolução poderá trazer.
A maioria dos entrevistados deseja que os auditores ampliem a sua oferta para além da auditoria financeira, em particular nas áreas da formação e garantia de informações não-financeiras – exemplo do risco climático, diversidade de género e direitos humanos –, com acesso a mais serviços de assessoria para complementar as soluções já existentes. Esta extensão da oferta deve respeitar, contudo, segundo a maioria dos entrevistados, uma clara separação entre serviços de auditoria e consultoria.
Este repensar da oferta pode originar um impacto potencialmente positivo na capacidade das sociedades de recrutar e reter os melhores talentos. Ao invés de atrair os profissionais para uma firma que oferece apenas serviços de auditoria tradicionais, a oportunidade de fazer parte de uma organização que disponibiliza um vasto leque de áreas de intervenção e disciplinas pode conduzir à criação de um pool de auditores mais formados, informados, qualificados e comprometidos.
Paralelamente, a avaliação conduzida confirma que o mercado valoriza uma série de competências entre os auditores, incluindo conhecimento sobre gestão e especialização técnica financeira, tributária ou jurídica. As firmas de auditoria precisam de atrair e desenvolver talentos com uma expertise alargada.
Perante este aumento da procura por mais serviços, particularmente nas áreas de relatórios não financeiros, é expetável que surjam questões sobre como os serviços de auditoria e consultoria podem ser ampliados e conjugados. Qualquer expansão no foco dos serviços terá que ser considerada de modo a possibilitar a gestão de possíveis conflitos de interesse, ao mesmo tempo desenvolvendo adequadamente estratégias de partilha de conhecimento e a implementação de respostas abrangentes.
Os resultados alcançados no estudo da Mazars sublinham a complexidade inerente a traçar o futuro certo para a auditoria. No entanto, avaliar a ambição de gestores e decision makers, e desenhar subsequentes recomendações, poderá ajudar a criar um diálogo que permita chegar a uma visão partilhada e que conduza à transformação a colocar em prática.
Este é um convite para o mercado – no qual se contam reguladores, legisladores, profissionais de auditoria e empresas – a reconsiderar as expetativas acerca da auditoria. Em conjunto, podemos explorar um curso de ação para a reforma da auditoria que aborde as tensões atuais e responda a novas necessidades, enquanto tornamos a auditoria mais eficaz nas suas aplicações e finalidades futuras.
Por Luís Gaspar, managing partner da Mazars Portugal