Especial M&A - Condições atuais são propícias ao aumento dos negócios
A crise provocada pela pandemia de Covid-19 trouxe graves dificuldades a um vasto leque de sectores e empresas, mas também oportunidades para quem tenha resistido ou prosperado perante cenários altamente negativos. Nas fusões e aquisições (M&A), as duas vertentes assumem uma importância acrescida, com as oportunidades de investimento a surgirem em empresas com potencial de crescimento acima da média ou que necessitem de restruturação. Os consultores contactados pelo Jornal Económico consideram que há condições para que estas operações floresçam, num futuro próximo.
Que tendências/movimentos espera com a abertura progressiva das economias?
Antecipar tendências num contexto de mudança sem padrão e com inúmeras incertezas é um desafio difícil.
Assumindo que as novas variantes da COVID-19 não trazem novos constrangimentos/confinamentos e que o processo de vacinação massiva prossegue a bom ritmo a imunidade de grupo só se atingirá no final do verão, condicionando, desde logo, uma atividade sazonal, como a do turismo com implicações diretas na recuperação económica.
O fim de alguns apoios às empresas, das moratórias e as insuficiências do lado da procura vão evidenciar a profundidade da crise na hotelaria, na restauração e na cultura. Transversalmente os playeres mais endividados vão necessitar de desencadear medidas de reestruturação ou acabarão por desaparecer.
As empresas que melhor resistirem à pandemia apresentam legítimas aspirações de crescimento, esperando encontrar estímulos nos fundos europeus que se estão a gizar. A criteriosa seleção de projetos, com adequada aferição dos retornos esperados e o seu efeito multiplicador, serão fundamentais para corporizar o ambicionado crescimento económico.
Como preveem a evolução deste tipo de operações em 2021?
O exercício de 2020, em Portugal, revelou um ligeiro arrefecimento da atividade de M&A decorrente do efeito pandémico. Note-se, no entanto, que em 2020, registaram-se operações muito relevantes em termos de valor, como são exemplos bem elucidativos os deals da Brisa-Auto Estradas de Portugal e da Rovensa Group.
A forma como, coletivamente, conseguirmos ultrapassar a pandemia, ditará em grande medida a performance de 2021. Acreditamos numa evolução positiva para a atividade de M&A. Existem sinais que podem deixar antever algum otimismo, designadamente, os elevados níveis de liquidez disponível, as baixas taxas de juro, a resiliência de alguns sectores no contexto pandémico. Não sendo de descurar as oportunidades emergentes do leque de empresas com elevados níveis de endividamento.
Quais os sectores com maior potencial para M&A's?
Os sectores apetecíveis serão aqueles que revelaram resiliência na crise, que apresentam rentabilidades interessantes e sobretudo margem para crescimento (como sejam as tecnológicas, energias renováveis, luxo) e outros com potencial, mas que se encontram muito alavancados (por exemplo, no sector hoteleiro).
Uma vertente referida ultimamente em que as fusões e aquisições têm crescido tem a ver com a colaboração de empresas tecnológicas em diferentes actividades. Como poderão estas operações servir os objetivos de transição digital de grande parte das empresas nacionais?
A forte aceleração da economia digital, que a pandemia tornou incontornável, está a promover a revisão das estratégias de abordagem ao mercado, potenciando oportunidades de M&A. A dinâmica de crescimento está muitas vezes alicerçada nas tecnologias de informação e as operações de M&A podem atuar como um facilitador, na medida em que vão impor maiores exigências na esfera digital, quer de cariz endógeno (na gestão da cadeia de valor e dos ERPs’), quer de cariz exógeno (para abordagem ao mercado).
Portugal tem alguns exemplos de start-ups e tecnológicas que rapidamente evoluíram e cresceram até à ambicionada designação de unicórnio, como a Farfetch, a OutSystems, Unbabel ou Talkdesk. Como perspetivam a evolução do mercado de private equity no país e qual o potencial para o surgimento ou afirmação de novas empresas até este estado de desenvolvimento?
A Mazars realizou recentemente um inquérito (https://www.mazars.pt/Home/Insights/Publicacoes/Estudos-e-Pesquisas/Covid-19-e-o-mundo-dos-Private-Equity) sobre as tendências no mercado de Private Equity a nível global. As expectativas, apesar dos desafios de contexto, são otimistas. Desta auscultação infere-se que o propósito das Private Equity em investir em novos negócios se mantém inabalável.
O caminho é estreito e tortuoso para o surgimento de novos unicórnios, no entanto, os avanços tecnológicos, os investimentos em I&D e o capital de conhecimento existente em Portugal permitem tecer legítimas expectativas.