Como compreender as perdas de crédito esperadas dos Bancos Europeus

Desde 2019 que se assiste a uma série de eventos sem precedentes, criando um ambiente económico desafiante para os bancos europeus. A partir dos relatórios e contas anuais de 26 bancos, em 11 países europeus, foi elaborada uma análise do nível de Perda de Crédito Esperada (Expected Credit Loss ECL) relativa ao ano fiscal de 2022.

O relatório “Financial Reporting of European Banks”, elaborado pela Mazars, mostra que ao longo dos últimos três anos, registou-se uma evolução na repartição da exposição de crédito (montantes brutos) entre os diferentes stagings da ECL, tendo-se assistido a uma diminuição geral significativa das Perdas de Crédito Esperadas de stage 1 e 3 e aumento do stage 2.

As alterações na quantificação das Perdas de Crédito Esperadas revelam uma tendência clara e homogénea, com uma diminuição significativa do stage 3 a favor do stage 2 e, em menor medida, das exposições em stage 1. Esta tendência é ilustrada particularmente pelos bancos italianos, que registaram uma diminuição significativa da imparidade em geral, nomeadamente em stage 3, resultado das suas políticas de desalavancagem do crédito malparado (NPL).

Para além disso, é possível notar que quase todos os bancos que utilizam a taxa de crescimento do PIB da zona euro, no ajustamento de forward-looking dos seus modelos de perdas esperadas, utilizam estimativas de crescimento efetivamente mais conservadoras do que as projeções do Banco Central Europeu para os próximos três anos. Pelo contrário, todos os bancos que usam a taxa de crescimento do PIB do Reino Unido apresentam premissas mais otimistas do que o próprio Banco de Inglaterra.

O relatório revela ainda que ao longo do exercício do ano passado registaram-se diferenças claras entre os bancos do Reino Unido, que reduziram fortemente o peso dos seus overlays na quantificação das perdas de crédito esperadas (ECL) no exercício de 2022, enquanto os Bancos franceses e italianos revelaram uma maior tendência de aumento dos overlays considerados na quantificação das perdas de crédito esperadas, aproximando-se mais da média do mercado.

Principais conclusões do exercício de 2022 em comparação com o exercício de 2021 

  • O rácio médio dos gastos com Perdas de Crédito Esperadas dividido pelo resultado operacional antes dos gastos com ECL diminuiu para 17% no exercício de 2022 (20% no exercício de 2021).
  • Embora a tendência no final do exercício de 2021 apontasse para uma redução global dos encargos com ECL (-81% entre o final do exercício de 2020 e o final do exercício de 2021), em comparação com o pico de necessidades de imparidade adicionais que se verificou durante a crise da COVID-19, todas as instituições de crédito da amostra regressaram, desde então, a um aumento da ECL (+106% entre o final do exercício de 2021 e o final do exercício de 2022).

Explorar a decomposição das perdas de crédito esperadas, os ajustamentos forward-looking e as constituições de overlays nos modelos

  • Impacto do encargo da ECL no exercício de 2022.
  • Perdas de crédito esperadas: alterações nos rácios de cobertura e repartição entre os diferentes stages.
  • Ajustamentos de forward-looking e a existência de overlays nos modelos.
  • Avaliação de algumas das informações prospetivas constantes dos relatórios anuais dos bancos.

Principais conclusões sobre outros temas 

  • No exercício de 2022, três instituições de crédito da amostra reclassificaram ativos financeiros devido a uma alteração do modelo de negócio durante o período de reporte (seguido os requisitos de classificação previstos na Norma IFRS 9).
  • Todos os bancos tinham passivos da terceira série de operações de refinanciamento de prazo alargado (TLTRO III) reembolsados antecipadamente de forma parcial em 2022, com um intervalo de 14% a -86% em comparação com os montantes TLTRO III no balanço do exercício de 2021.
  • Oito bancos divulgaram informações sobre o tratamento contabilístico aplicado à modificação das TLTRO III em outubro de 2022 pelo BCE.
  • A maioria dos bancos que divulgaram esta informação tratou esta modificação como uma “refixação” de uma taxa de juro variável sem qualquer impacto nos lucros ou prejuízos.

"O nosso novo relatório sublinha o impacto de múltiplos acontecimentos sem precedentes nos últimos anos sobre o desempenho dos bancos europeus. Ao prestar às instituições financeiras informações de referência sobre as principais tendências e indicadores-chave de desempenho relacionados com as perdas de crédito esperadas, esperamos dar-lhes acesso às informações mais relevantes para ajudá-las a perceber onde estão em relação aos seus pares, tanto a nível regional como europeu. A Mazars continua empenhada em apoiar os bancos globais a enfrentar os obstáculos económicos e políticos, bem como os desafios regulamentares que o setor bancário enfrenta atualmente." comenta Filipe Carvalho, Partner da Mazars em Portugal.

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