“A tendência de concentração no mercado de auditoria vai manter-se”

O líder da Mazars em Portugal acredita que a multidisciplinaridade - com o surgimento de firmas que oferecem serviços jurídicos juntamente com auditoria e consultoria - será uma “transformação inevitável”. A Mazars está a crescer a dois dígitos ao ano e está aberta a oportunidades para crescer por aquisições, num sector com muitas pequenas firmas.

Em entrevista ao Jornal Económico, o country managing partner da Mazars em Portugal fala da estratégia da firma de auditoria e consultoria, que registou uma faturação recorde no último ano fiscal. Luís Gaspar afirma que a estratégia não assenta apenas no crescimento orgânico: em 2022, a Mazars adquiriu uma sociedade de revisores oficiais de contas sediada em Leiria e continua aberta a novas oportunidades de crescimento por aquisição, até porque, acredita, a tendência para a concentração no sector em Portugal vai continuar. Para o futuro, um dos temas que estão em cima da mesa é o da multidisciplinaridade, que Luís Gaspar considera “uma transformação inevitável”.

Que balanço faz da atividade da firma em Portugal no último ano?

A Mazars continua a crescer. No ano fiscal 2021/2022 a Mazars em Portugal atingiu um crescimento significativo a dois dígitos nas suas várias áreas de negócio, com um volume de faturação de quase 15 milhões de euros, reforçando e consolidando a sua posição no mercado como uma das principais firmas de auditoria, fiscalidade e consultoria. Estes valores estão em linha com resultados recorde alcançados a nível global: uma evolução positiva a dois dígitos (16,4%) e um volume de faturação total de 2,45 mil milhões de euros.

Face às imposições de uma supervisão ainda mais exigente e ao facto de contarmos em Portugal com um grande número de Sociedades de Revisores Oficiais de Contas (SROC) de pequena dimensão, a tendência de concentração no mercado de auditoria vai manter-se. Por exemplo, no ano passado realizámos a aquisição de uma SROC localizada em Leiria para reforçar a nossa posição na região, e estamos abertos a outras operações se a oportunidade surgir. A estratégia de crescimento é diversificada.

Quais as áreas com maior crescimento?

Estamos a crescer por várias vias. A Mazars em Portugal cresceu em todas as áreas de negócio e nas várias geografias onde se encontra presente (temos escritórios em Lisboa, Porto e Leiria). Crescemos na Auditoria, quer em Financial Services, quer em Indústria e Serviços, no Tax e no Outsourcing. Crescemos em todas as áreas de negócio e de suporte, assentes nas exigências do mercado (e do regulador) e nas necessidades dos clientes, investindo e procurando disponibilizar novas competências para áreas que apresentam um elevado grau de especificidade. Sempre com o objetivo final de alargar o nosso leque de serviços e produtos e robustecer a nossa oferta. Diria que não crescemos tanto quanto poderíamos em determinadas áreas, pela perda de atração da profissão e consequente dificuldade na aquisição de talento , uma problemática que é, hoje, transversal ao mercado e que precisa de reflexão e ação de todos os agentes. Ainda assim, integrámos uma equipa de Incentivos, não só fiscais como também financeiros, e investimos numa nova área , a da Sustentabilidade com uma equipa dedicada, uma oferta que já existia no grupo, mas que não oferecíamos ainda em Portugal. Em termos estratégicos, a ideia é estarmos alinhados com o grupo e oferecermos no mercado nacional tudo aquilo que a Mazars oferece a nível global.

E quanto a este ano, o que espera em termos de atividade?

A expetativa é de consolidação do crescimento alcançado para o que resta do exercício fiscal 2022/2023 , para a Mazars este termina a 31 de agosto de 2023. Estamos neste momento a finalizar o nosso plano estratégico para o exercício fiscal 2023/2024, na certeza de que haverá clareza no caminho a seguir. A meta que já conseguimos antecipar é de consolidação do crescimento registado no último ano.

Esta capacidade de crescimento, quer pela via de desenvolvimento de novas competências, serviços e produtos, quer através da conquista de novos projetos é, de resto, fundamental perante um mercado que vai certamente continuar a ser marcado pela concentração. Temos de assegurar a capacidade de entregar e responder a múltiplas exigências, do ponto de vista das solicitações de clientes e do que é requerido pela supervisão, integrando novas respostas numa visão mais ampla daquilo que podemos e queremos ser.

A multidisciplinaridade está em cima da mesa. Crê que a nova lei vai permitir que firmas como a vossa reforcem a oferta de serviços? Será positiva para os clientes?

Quando falamos da questão da multidisciplinaridade na Mazars falamos essencialmente do Legal, área onde ainda não acompanhamos o Grupo. Já trabalhamos atualmente com várias sociedades de advogados, particularmente no que está relacionado com a área de Advisory. Não tomámos até agora qualquer decisão relativamente a esta questão. Mas acreditamos que esta é uma transformação inevitável. Perspetivamos, numa primeira fase, uma solução na Mazars que deverá passar por conseguir complementar alguns serviços que já disponibilizamos. Ainda estamos a avaliar de que modo esta abordagem pode ser exatamente estruturada, mas teremos certamente uma resposta a este nível quando esta área tiver o seu devido enquadramento em Portugal.

Vão reforçar a equipa até ao final do ano?

A perspetiva da Mazars é de permanente reforço de equipas e desenvolvimento das competências presentes nas nossas diferentes áreas de atividade. O contexto é de enorme desafio, face à transformação das necessidades e objetivos de uma nova geração de profissionais a ingressar no mercado de trabalho e a uma consequente concorrência acrescida na aquisição de talento; desafio para o qual todos os stakeholders no mercado, mais até do que as próprias firmas, têm de conseguir encarar criticamente e para o qual devem definir estratégias devidamente pensadas. Vemos a Mazars como a melhor escola de gestão e constatamos que a experiência global e possibilidade de evolução apresentadas às nossas Pessoas são a base para nos escolherem. O que nós estamos a procurar fazer é tornar a atividade na Mazars ainda mais interessante. A nossa aposta é na preparação das nossas Pessoas, melhorando continuamente tudo o que tem a ver com os processos de Recursos Humanos e providenciando formação intensa ao nível da liderança. Acreditamos que vamos cada vez mais conseguir reter o talento de que necessitamos para dar resposta aos nossos clientes.

Autor: Filipe Alves

In Jornal Económico

Documento

Jornal Económico - Especial Auditoria 2023

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